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Empresas investem em jogos para engajar, treinar e recrutar

Fonte: Valor Econômico (13 de agosto de 2019)

Jeannette Galbinski, sócia do Escape 60, que tem espaços temáticos onde é preciso solucionar enigmas em 60 minutos — Foto: Nilani Goettems/Valor


Ganhar pontos, fugir de armadilhas, negociar com oponentes e passar de fases são situações comuns em jogos, mas que ganham força no ambiente corporativo.Empresas têm recorrido cada vez mais a técnicas de games para processos de recrutamento e seleção, treinamento e engajamento de profissionais. As ferramentas são variadas e incluem desde jogos de tabuleiro até desafios como tentar escapar de uma sala, além de experiências em realidade virtual.

No Escape 60, a proposta é solucionar enigmas em espaços temáticos, mas com o tempo cronometrado: 60 minutos. A atração tem sido usada por companhias como uma dinâmica de processos seletivos, mas também para capacitação de líderes e integração de novos colaboradores. A demanda corporativa é crescente: o negócio teve um aumento de 150% em quantidade de projetos realizados para empresas no primeiro semestre de 2019, na comparação com o mesmo período do ano passado, diz Jeannette Galbinski, sócia e diretora de marketing do Escape 60. Desde que foi criado, há quatro anos, a marca atendeu mais de 2.000 empresas e hoje, um quarto do público é corporativo.


As salas são temáticas e inspiradas em filmes e séries, como A Fuga do Faraó, que remonta o Êxodo; Corredor da Morte, que simula uma cadeia; e Shark Tank, inspirada no reality show de empreendedorismo do canal Sony. “Não importa o cenário. O objetivo de cada sala é o mesmo: trabalhar em equipe, sob pressão, exercitar a liderança e comunicação para sair em 60 minutos”, aponta Jeannette.

 
Por meio de franquias, a rede possui 16 unidades em operação nas principais capitais brasileiras, incluindo São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Desde 2017, começou a internacionalização com uma operação em Santiago, no Chile, e desembarcou na Cidade do México neste ano. A meta é chegar a 20 unidades até o fim de 2019. Para este ano, a expectativa é atingir um faturamento de R$ 20 milhões, avanço em torno de 15% em relação a 2018.
 
Antes de colocar a mão na massa em um projeto de comunicação interna, a agência RPMA Comunicação preferiu testar como um grupo de sete funcionários se também eram diversas, como designers, relações públicas e jornalistas.
 

“Escolhemos o jogo, fora da agência, para os funcionários se mostrarem exatamente como são, sem a preocupação de gestores fazendo a avaliação”, conta Margareth Santos, gerente de RH da RPMA Comunicação, empresa com 150 profissionais.

 

Na sala chamada “Batalha naval”, os participantes fazem parte da força de operações especiais da Marinha dos Estados Unidos quando um submarino americano é bombardeado por um submarino nuclear norte-coreano. “O interessante era perceber se o grupo teria empatia, comunicação, organização e como funcionaria sob pressão. Deu para observar quem era mais criativo ou mais organizado, além da colaboração de todo o time”, diz Margareth. A agência também prevê utilizar as “escape rooms” (salas de fuga) para seleção de novos funcionários. “Quando vem para uma entrevista, a pessoa já vem armada. Se está em um ambiente lúdico, acaba sendo ela mesma”, compara.
 
A aposta da Lends Club é resgatar as partidas de tabuleiro. Criada em Porto Alegre há seis anos pelo designer de games Wyllian Hossein, a empresa dispõe de mais de 400 títulos de jogos, incluindo os clássicos Jogo da Vida, Banco Imobiliário e Detetive, além de outros específicos, como Catan, Carcassonne e Ticket to Ride. “Conversamos com o RH da empresa para resolver um problema real usando elementos dos jogos, como desafios e sistemas de pontuação. Ajuda a quebrar o gelo em análises de perfil de candidatos em processos seletivos”, exemplifica.

 
No ano passado, o negócio atendeu oito clientes corporativos. No caso de duas empresas de tecnologia, os projetos envolviam engajamento entre profissionais das áreas de vendas. Com uma universidade gaúcha, a Lends Club desenvolveu um jogo para uma feira de carreiras com participação de empresas que realizaram a dinâmica como parte dos programas de trainee. Além de um profissional da empresa contratante, cada mesa incluía grupos de dez pessoas, sendo que algumas queriam entregar o projeto e outras queriam atrasar. “A ideia era que um analisasse o comportamento do outro”, explica Hossein.
 
Novas metodologias e ferramentas ajudam a tornar o processo seletivo mais atrativo para os candidatos, observa Juliana Nascimento, diretora de novos produtos e parcerias da Cia de Talentos. Ainda assim, é preciso tomar cuidado para que a avaliar com essa ou aquela ferramenta?”, enfatiza.
 
A especialista lembra que a gamificação não é simplesmente adotar um jogo, e sim usar mecanismos de games e design de experiências para engajar pessoas em determinada atividade. “Muitas ferramentas de avaliação de comportamento e competências são consideradas game-based, ou seja, têm como base a gamificação”, afirma. A Cia de Talentos, por exemplo, acaba de trazer ao Brasil duas ferramentas on-line de avaliação, uma que mede habilidades cognitivas e outra que analisa habilidades comportamentais.

 
No Skyrise City, produto desenvolvido pela Arctic Shores, o candidato joga cinco fases de um game por aplicativo e, a partir do resultado, são medidas habilidades como a maneira de tomar decisões, forma de aprendizado e memória. “O diferencial é que tira os vieses inconscientes do processo”, diz Juliana. Já o Owiwi combina tecnologia com pesquisas em psicologia organizacional e design de games, com o objetivo de avaliar as chamadas “soft skills” dos candidatos. “Por ser um jogo, muitas vezes a pessoa esquece que está em ambiente de avaliação.”

Maior grupo de viagens do país, a CVC Corp começou a usar gamificação no início deste ano, inicialmente focada no engajamento dos seus 3 mil funcionários na busca por uma vida mais saudável. Com um desafio mensal, o programa interno de gestão da saúde da empresa oferece premiações aos profissionais que mais se engajam. Em um dos desafios, a proposta era baixar um aplicativo e caminhar pelo menos 70 mil passos em 15 dias. Quase metade da companhia aderiu e os funcionários de maior destaque ganharam uma bicicleta, conta Fernando Oliveira, diretor de gente e gestão da empresa.


Para agosto, a CVC Corp prepara uma nova etapa de gamificação, com a criação de um programa de reconhecimento, em que todos os níveis de funcionários serão convidados a vivenciarem os valores da companhia. Aqueles com melhor desempenho serão eleitos “embaixadores dos valores” e poderão resgatar prêmios, como viagens. A partir de 2018, depois da aquisição de oito empresas em um período de quatro anos, o grupo adotou um novo propósito e valores.