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China cita acordo para cortar tarifas; EUA não confirmam

Fonte: Valor Econômico (08 de novembro de 2019)

O anúncio feito ontem por Pequim, de que os EUA e a China concordaram mutuamente em reduzir tarifas como parte da “fase um” do acordo comercial, animou os mercados financeiros, contribuindo para a expectativa de que a guerra comercial de 18 meses possa estar começando a se arrefecer.
 
Mas nem a Casa Branca nem o representante comercial dos EUA emitiram uma resposta pública ao comunicado da China e ontem havia relatos conflitantes de dentro do governo Donald Trump sobre o quanto os EUA concordaram em ceder – se é que concordaram.
 
“Se a primeira fase do acordo for assinada, China e EUA deverão remover simultaneamente a mesma proporção de tarifas com base no conteúdo do acordo”, disse ontem Gao Feng, porta-voz do Ministério do Comércio da China. “Isso é o que os dois lados acertaram após negociações cuidadosas e construtivas nas duas últimas semanas.”
 
Uma autoridade americana assentiu que os dois lados planejam reduzir as tarifas como parte de um pacto comercial inicial. Mas duas outras fontes familiarizadas com a posição do governo contestaram a informação de que um plano formal de retirada das tarifas tenha sido acertado.
 
“Não há planos de retirada de tarifa em troca da fase um”, disse uma das fontes. Autoridades chinesas estão “tentando renegociar o acordo em proveito próprio”.
 
Michael Pillsbury, especialista do Hudson Institute que aconselha o governo Trump, disse acreditar que o comunicado do governo chinês “possa representar o desejo do lado chinês, mais do que um acordo específico”.
 
Mesmo assim, há uma crescente pressão sobre Trump para que ele faça uma concessão à China, no momento em que o presidente enfrenta a possibilidade de um impeachment pela Câmara dos Deputados e se prepara para a campanha de reeleição em 2020.
 
Há também sinais de que as tarifas – pagas pelas empresas americanas e cujo custo que é repassado aos consumidores – estão se tornando um peso à economia americana.
 
Em setembro, o último mês com dados disponíveis, os importadores americanos pagaram um recorde de US$ 7 bilhões em tarifas. O crescimento econômico caiu para menos de 2% no terceiro trimestre, depois de avançar quase 3% na maior parte de 2017 e 2018.
 
A taxa de desemprego permanece baixa, mas a geração de empregos no setor industrial encontra-se estagnada neste ano.
 
Myron Brilliant, vice-presidente executivos e diretor de assuntos externos da Câmara do Comércio dos EUA, saudou as informações de que as tarifas seriam reduzidas gradualmente. “Estamos desistindo de tarifas que prejudicam nossa economia, fabricantes, produtores rurais, consumidores e comerciantes”, disse Brilliant. “Em troca, estamos pedindo à China que se comprometa de forma concreta em áreas específicas – compras, serviços financeiros, mercados financeiros – além de fazer concessões adicionais em outras áreas.”
 
Os EUA estão cobrando sobretaxas em cerca de US$ 360 bilhões em importações chinesas, impostas em quatro rodadas diferentes, e até ontem não estava claro quantas dessas tarifas seriam afetadas e em que horizonte. Não havia detalhes se os EUA reduzirão as tarifas ou se elas serão totalmente removidas.
 
Brilliant disse que uma opção seria suspender as tarifas de 15% impostas em 1º de setembro sobre cerca de US$ 111 bilhões em produtos chineses, e concordar em não prosseguir com um aumento de tarifas planejado para 15 de dezembro, que atingiria grandes categorias de produtos de consumo e eletrônicos chineses.
 
A remoção de tarifas vem sendo um ponto delicado recorrente nas negociações. Pequim vem pressionando os EUA para que acabem com todas as tarifas, descrevendo isso como uma de suas linhas básicas quando as negociações fracassaram no primeiro semestre. Washington vem discutindo a remoção de tarifas como parte de um mecanismo de conformidade sob o qual as tarifas seriam eliminadas gradualmente se a China cumprir com os compromissos assumidos no acordo comercial.
 
Não estava claro ontem se o que as autoridades chinesas descreveram pode ser considerado esse mecanismo de conformidade.
 
As autoridades chinesas geralmente se recusam a caracterizar os progressos obtidos nas negociações comerciais, mas ontem as autoridades descreveram a redução gradual das tarifas como um resultado duramente conseguido.
 
“Os chineses decidiram que Trump precisa mais disso do que eles, e eles estão tentando fazer o que sempre fazem, que é ganhar vantagem”, disse William Reinsch, do Center for Strategic & International Studies de Washington.