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Logística 4.0 vai acabar com o subuso de equipamentos e mão de obra, diz especialista

Fonte: A Tribuna (18 de junho de 2018)

Informações em tempo real e ao alcance de um clique, modelos de monitoramento de processos e operações com alto grau de eficiência operacional. Tudo isso pode ser alcançado através da combinação de fenômenos como a internet das coisas, radio frequência e Big Data, que garantem velocidade, volume, variedade, veracidade e valor.

 
Há ainda inúmeros outros processos modernos e inovadores, que criam uma nova forma de fazer logística, a 4.0. No entanto, a adequação a essa nova realidade depende de investimentos e de uma grande mudança de cultura. É nisso que acredita o gerente Corporativo Comercial da Jungheinrich, Raphael Souza. Veja a entrevista abaixo:

 

O que significa Logística 4.0 e como esse termo surgiu?

Nós consideramos que passamos até hoje por quatro revoluções industriais. A primeira, em 1784, que foi a invenção da máquina a vapor. A segunda foi em 1870, a conhecida linha de produção, com a fabricação em massa. A terceira é conhecida como a revolução da automação, dos computadores e dos eletrônicos, que começa a acontecer a partir de 1969. Nos dias de hoje, a gente tem a quarta.
O termo Logística 4.0 surge em outubro de 2012 e foi criado por especialistas que visavam trazer a tecnologia da parte de automação e eletrônica para a comunicação integrada dos equipamentos, para o ciberespaço, para a internet das coisas e para se fazer uma integração entre os equipamentos. A ideia é que se conseguisse descentralizar as produções, transmitir informações de produção e equipamentos para uma nuvem, um meio cibernético e criar, principalmente, uma virtualização do sistema produtivo. Essa foi a primeira vez que se falou efetivamente do termo Indústria 4.0, que é o que está em vigor hoje.
E o termo Logística 4.0?
Dentro do Indústria 4.0 existe um desmembramento especificamente logístico que é o Logística 4.0. Nesse segmento, a gente segue os mesmos preceitos de ciberespaço, de internet das coisas, de sistemas autônomos, mas focados em equipamentos e soluções, além de sistemas inteligentes para atender ao segmento.
Como está sendo adotada essa tendência 4.0 no Brasil?
O Brasil ainda está engatinhando nessa nova era. Segundo a CNI (Confederação Nacional da Indústria), apenas 1,6% das empresas brasileiras está operando dentro do conceito Indústria 4.0. A estimativa é que isso suba, até 2027, para 21,8%. A gente vê uma série de limitações com relação a investimentos para essa nova realidade. Nós ainda somos muito carentes com relação ao investimento e com relação à percepção do nosso governo para essa nova realidade. Temos, sim, empresas de ponta, no Brasil, que já perceberam essa nova realidade, principalmente a necessidade de mudanças para se tornar competitiva.
Hoje, segundo o Fórum Econômico Mundial, em termos de competitividade, o Brasil está ocupando a 81ª posição no mundo, enquanto a Suíça está em primeiro lugar, Cingapura, na segunda posição, e Estados Unidos no terceiro lugar. Ou seja, estamos muito distantes de ter uma posição competitiva hoje no mundo; E uma das formas de elevar o nosso padrão de competitividade é se adequar a esse novo padrão da Indústria 4.0. Se nós avaliarmos a produtividade por hora trabalhada, o brasileiro hoje gera de riqueza US$ 16,80, enquanto um alemão gera US$ 64,40. A gente tem muito o que fazer, muito o que investir ainda para conseguir chegar a um patamar adequado dentro de um cenário global. E a gente só vai conseguir fazer isso quando começar a entender que investimento é necessário.
E como o setor portuário está se adequando à nova realidade?
O que eu posso te falar sobre movimentações de carga em geral é que as empresas estão investindo nesse segmento. Nós temos empresas no interior do Ceará, de pequenas cidades, que estão completamente automatizadas, com operações rodando dentro do padrão da Logística 4.0 e que vão despontar no mercado por conta da sua competitividade. São empresas que já entenderam que ou elas se adequam, ou não serão competitivas no mercado. Muita gente pensa que você precisa estar nos grandes polos industriais ou nos grandes centros de distribuição de cargas para se adequar a essa realidade. E isso não é verdade. A gente já tem “n” operações rodando hoje, próxima a portos do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, no interior de estados que já rodam dentro da realidade da Indústria 4.0, da Logística 4.0, que já estão à frente da grande realidade do mercado brasileiro.
E qual é esse diferencial?
Essas empresas perceberam que preço é diferente de custo. Isso não é só nesse segmento. É cultural do brasileiro. E eu entendo que a gente vem de uma cultura do último século de inflação, de juros altos. A gente ainda vinha da época dos planos econômicos e isso acabou, na minha opinião, fazendo com que os brasileiros se acostumassem a não conseguir se planejar a longo prazo. E isso acabou se incorporando na filosofia das indústrias. Muitas da análises de longo prazo que as empresas deveriam fazer, elas acabam segurando com medo do futuro, com medo do planejamento e da falta de segurança com o que vai acontecer dali a três, quatro ou cinco anos. É necessário tomar risco e quando isso acontece você percebe que o preço mais alto para determinado investimento não necessariamente representa um custo mais alto. Às vezes, pagar mais por determinado investimento representa redução efetiva de custos operacionais e melhor produtividade no final da cadeia.
Quais são as maiores vantagens dessas mudanças e adequações?
O primeiro princípio da Indústria 4.0 é a otimização. Para mim, esta é a chave para conseguir gerenciar, tanto a frota, como os equipamentos para que você tenha o número absolutamente necessário e trabalhe sob demanda, para que não tenha nem mais e nem menos. Se está rodando com 10 equipamentos, precisa ter 100% de certeza de que eles estão sendo utilizados de maneira correta. A realidade que a gente vê hoje é que muitas das empresas compram 10 equipamentos para movimentação de cargas quando, na realidade, precisavam de oito e dois estão subutilizados. A Indústria 4.0 vem para acabar com a subutilização de equipamentos e de mão de obra. Não estamos falando daquilo que é físico, de equipamentos, mas também estamos falando de serviços, de todo o conjunto inerente a produção e prestação de serviços.
Há outras?
O segundo ponto é a descentralização. Você vai poder contar com produções descentralizadas e serviços descentralizados. Você imagina a questão de home office que vai se tornar mais comum nesse conceito 4.0 porque toda a informação vai estar na nuvem e a gente já vê essa tendência dos dispositivos portáteis, dos Big Data, dos Clouds, toda essa realidade acontecendo e você não precisar ter células produtivas e equipamentos dedicados exclusivamente para “n” tipos de produção. Você vai poder ter células produtivas espalhadas por “n” locais do Brasil, dedicados para tipos de soluções ou serviços e que vão poder ser alocadas para serviços de “n” empresas diferentes, sem que seja preciso desmobilizar sistemas produtivos ou prestando isso para uma única empresa.
E como você reage diante das queixas de que a Logística 4.0 poderá gerar desemprego?</span></p></div>
Nunca foi tão necessária mão de obra qualificada. Em todas as mudanças em toda a história da humanidade, funções foram extintas para que novas surgissem. Mais uma vez isso vai acontecer. A gente precisa de mão de obra para programar, operar, projetar equipamentos, mão de obra de serviços para vender. Essas novas profissões e serviços já estão sendo criados. Infelizmente, essas qualificações precisam ser feitas dentro das empresas porque as universidades ainda estão engatinhando para preparar os alunos para formar o profissional apto a realizar esses serviços. É uma demanda que a gente tem levado às universidades. O que a gente vai ter não é diminuição dos postos de trabalho, é uma migração do tipo de trabalho necessário. Há também a preocupação com o meio ambiente, de fazer com que todo esse processo de logística, logística reversa, de descarte, de redução de emissão de CO2, aconteça ao longo de toda essa transformação da Indústria 3.0 para a 4.0.
E quais são os riscos da não adequação a essa realidade?
Eu diria que, com a não adequação, você está fadado a permanecer estagnado no mesmo padrão de mercado que a gente está vendo hoje. Nós já não somos competitivos, estamos longe de sermos um dos principais países em termos de competitividade do mundo e a empresa que não se adaptar vai continuar estagnada. Aquele que não se adapta, não se adequa, estagna e está fadado a, provavelmente, morrer no mercado ou ser consumido pelos que mudaram.
E o que é preciso para se adequar às novas tendências?
Investimento e visão de longo prazo. Não só investimento, mas mudança cultural. O ser humano tem uma tendência de ficar estagnado, na nossa zona de conforto. Qualquer mudança operacional ou estrutural envolve também uma mudança cultural. Migrar para a Logística 4.0 envolve essa mudança. Eu acho que isso também é um desafio. A gente ainda tem, na indústria do segmento logístico, empresa que roda com máquinas a combustão em pleno ano de 2018. Estamos falando da era da digitalização, da era de Big Data e de empresas que estão atualmente renovando contratos para equipamentos que rodam a gás. E não tem a ver com necessidade. Quando você mostra o gastos, vê que sai mais caro. A pecinha ser humano ainda é uma dificuldade.